sábado, 27 de março de 2010

Ilha do medo (Shutler Island)

Ilha do medo (Shutler Island) – EUA – 2010 *****

Direção: Martin Scorsese

Roteiro: Laeta Kalogridis, baseado no livro de Dennis Lehane

Que Martin Scorsese é um gênio do Cinema todo cinéfilo já sabe. Que ele faz ótimos filmes de mafiosos e seus conflitos entre vida pessoal, moral e crime, mergulhando na mente de seus personagens todo mundo já sabe também - vide Os infiltrados, Os bons companheiros, Cassino, Gangs de Nova York. Mas nesse Ilha do medo ele vai mais fundo ainda na psicologia e devaneios de Teddy (Leonardo DiCaprio). Teddy é um detetive da polícia que junto com seu parceiro Chuck (Mark Ruffalo) se encaminha para Shutler Island do título, uma instituição para tratamento de criminosos com distúrbios mentais, para investigar o desaparecimento de uma paciente considerada muito perigosa por ter matado os seus três filhos afogados no lago perto de sua casa e não admitir o fato até os dias atuais. Teddy começa a enfrentar a oposição do diretor da clínica à investigação e de seu misterioso psicólogo ao mesmo tempo em que vai descobrindo os segredos que cada um dos personagens esconde. Aliás, os quadjuvantes no filme dão um show à parte. Cada personagem tem sua personalidade marcante e as performances são, mesmo que dispondo de pouco tempo em tela, formidáveis. Capturam a nossa atenção e marcam. Destaque para o sempre talentoso Ben Kingsley, o carismático e simpático Chuck, interpretado pelo ótimo Mark Ruffalo (sou fã do cara), Michele Williams sempre intensa e todos os doentes mentais da instituição, que escondem segredos e crimes horríveis por trás de seu desequilíbrio. Isso nos leva à performance irretocável de DiCaprio, que já começa o filme dizendo “se recomponha, Teddy” para si mesmo no sombrio navio que ruma para Shutler Island. A confusão do personagem ao longo do filme é mostrada com virtuosismo pelo ator, e pelo roteiro obviamente, de forma progressiva e através de detalhes, como tiques nervosos, respiração ofegante, etc. As seqüências dos sonhos/devaneios de Teddy são perfeitas em intensidade dramática e uso da linguagem cinematográfica, que é quando Scorsese adiciona elementos caindo no meio da cena, como cinza, papel e goteiras, mostrando a instabilidade emocional e mental do detetive. As cenas do fim da Segunda Guerra Mundial que retratam o holocausto são simplesmente impressionantes. E é nesse ponto que a fotografia se mostra genial porque sabemos exatamente onde começam os sonhos e lembranças de Teddy, simplesmente pelo visual do que estamos vendo e pelo maravilhoso design de produção, e é claro, pela narrativa. Outro ponto alto do filme é a montagem, feita por Thelma Schoonma, usual colaboradora de Scorsese, usando às vezes cortes secos que mostram ainda mais a confusão do personagem central, e no restante do longa é eficiente como de costume. A ótima trilha sonora me lembrou um pouco a dos filmes do mestre do suspense Alfred Hitchcock, fazendo uso de cordas graves ou agudas, altamente expressivas que ajudam a criar o clima de suspense e tensão da história. A direção de Scorsese é genial. Alguns reclamaram da falta de identificação do público com os personagens, alegando que Scorsese só sabe mesmo falar do mundo da máfia, mas eu discordo. Ilha do medo é o mais novo clássico do mestre e vai ser lembrado por muito tempo. Apesar do nome, não se assemelha a outro longa do diretor, Cabo do medo, mas sim a outro clássico do suspense, O Iluminado de Stanley Kubrick. Com um desfecho angustiante e surpreendente, Ilha do medo ecoa na mente do espectador muito tempo depois de terminada a sessão.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Crepúsculo dos Deuses (Sunset Boulevard)

Crepúsculo dos Deuses (Sunset Boulevard) – EUA – 1950 *****

Direção: Billy Wilder

Roteiro: Charles Brackett, D.M. Marshman Jr. e Billy Wilder

De tempos em tempos o cinema produz algo sobre ele próprio, como no ótimo O Jogador de Robert Altman ou o mais novo de Quentin Tarantino, Bastardos Inglórios, que mistura o assunto Segunda Guerra Mundial (mais do que explorado) e a paixão de seu cineasta pela Sétima Arte rendendo um bom resultado. Neste clássico (no melhor sentido da palavra) Crepúsculo dos Deuses, Billy Wilder nos apresenta a história de uma estrela de cinema decadente chamada Norma Desmond (Gloria Swanson) e por conseqüência, nos mostra um pouco do mundo de Hollywood e de seus bastidores nos anos cinqüenta. Quem nos conta a história é o roteirista Joe Gillis (William Holden). Já nos minutos iniciais tomamos consciência de seu assassinato, com seu corpo encontrado boiando na piscina de uma mansão. Daí pra frente, voltamos no tempo em um flashback em que o próprio Joe relata toda sua trajetória até aquele ponto. Por casualidade, ele chega a uma mansão em Sunset Boulevard com ares de abandonada, mas descobre mais tarde que é habitada por uma excêntrica ex-atriz dos anos 20 de Hollywood, Norma Desmond, que passou os últimos anos de sua vida escrevendo o roteiro maluco de um filme que deseja estrelar e ser dirigida por Cecil B. DeMille, sendo este o seu retorno glorioso às telas. Contratando Joe para revisar o roteiro, ele acaba envolvido num romance com jogos de interesse e chantagem emocional. Ao mesmo tempo ele se envolve com a simpática noiva de seu amigo, aspirante a escritora de roteiros, vai descobrindo o quanto efêmero e às vezes superficial é mundo do Cinema de Hollywood. Wilder é dono de uma filmografia muito regular, segundo público e críticos, dos quais eu já vi os títulos Sabrina, Quanto mais quente melhor e O Pecado mora ao lado, todos memoráveis e dignos de serem vistos e revistos muitas vezes. Este Crepúsculo dos Deuses já é o suficiente pra mim para elevar o diretor ao nível de gênio da Sétima Arte, devido ao uso da linguagem cinematográfica para contar a história e da profundidade e tridimensionalidade que confere a todos os personagens e às histórias. É difícil, por exemplo, saber o que prende Joe a casa e à Norma. Dinheiro? Carência emocional? Satisfação por ser sentir útil? Amor verdadeiro? Na verdade é de tudo um pouco, e o interessante é decifrar isso ao longo do filme. Isso, sem falar da personagem Norma, a atriz que viveu seus dias de glória estrelando os filmes de Cecil B. DeMille, mas não conseguiu lidar bem com o envelhecimento e o que as conseqüências dele trouxeram para sua profissão, sem falar no seu desequilíbrio emocional. Norma é uma personagem muito interessante, abrilhantada mais ainda pela performance teatral e intensa de Gloria Swanson. Com vários personagens curiosos, como o mordomo de Norma, a namorada de Joe, e até mesmo Cecil B. DeMille fazendo uma ponta imperdível como ele mesmo, o filme é repleto de momentos memoráveis e cheios de significados. Outro destaque fica por conta dos diálogos, com frases como “Eu não sou grande, os filmes é que se tornaram pequenos” e “Sr. DeMille, estou pronta para o meu close-up” ou “Os filme mudaram bastante ultimamente”. Frases como estas ditas pelo elenco formidável tornam-se inesquecíveis. Crepúsculo dos Deuses é um clássico obrigatório.

segunda-feira, 22 de março de 2010

O amor acontece (Love happens)

O amor acontece (Love happens) – EUA/Canadá – 2010 *


Direção: Brandon Camp


Roteiro: Mike Thompson e Brandon Camp


É sempre com pesar que escrevo sobre um filme como esse O amor acontece. Só penso nas uma hora e meia da minha vida que desperdicei assistindo uma história tão rasa, pedestre e sem conteúdo nenhum. E pior ainda: de muito mau gosto. O filme conta a história de Burke (Aaron Eckhart), um viúvo que, depois de perder sua esposa precocemente em um acidente de carro, resolve escrever um livro com o intuito de ajudar outras pessoas no processo de luto. Tendo seu livro se tornado um best seller, ele viaja o país dando conferências e palestras “ensinando” outros a superar a dor. Diante de um contrato milionário que levará sua marca e obra a outros mercados, Burke tem que enfrentar traumas do passado consigo mesmo e com os pais de sua esposa falecida ao mesmo tempo em que conhece a bela Eloise (Jennifer Aniston) e começa um relacionamento. O roteiro mostra desde o início a que veio: fazer uma ode à mediocridade e falta de talento. Mostrando Burke em uma de suas conferências, é difícil imaginar que existe alguém que acredite nas baboseiras que ele fala, dignas de qualquer livro ridículo de auto-ajuda, que é provavelmente aquilo que ele escreveu. Dando “força” aos seus interlocutores através de frases prontas e liçõezinhas baratas de vida, Burke não convence em nenhum momento ser o autor de um best seller ou mesmo conseguir atrair público. Aquilo só é plausível mesmo no mundo sem noção do diretor Brandon Camp. Investindo no romance mais artificial já visto no cinema nos últimos tempos, nem Eckhart e Aniston, geralmente carismáticos e talentosos, conseguem convencer que exista alguma atração entre aquelas duas pessoas. Eles atuam em cenas inverossímeis e pronunciam diálogos ridículos. Deprimente. Tentando mostrar algum amadurecimento do personagem principal ao longo da história, o roteiro e a direção de Camp só se afundam durante o filme, com uma cena implausível sobre o papagaio da esposa e uma reconciliação com seu sogro mais fora da realidade ainda. Sem nenhum momento que traga algo de bom ou possa ser lembrado, O amor acontece não é nada mais do que uma grande decepção e um lixo cinematográfico.

quarta-feira, 17 de março de 2010

O poder de uma história

Outro dia estava meditando sobre o poder das histórias nas sociedades humanas, por mais diferentes que sejam. Acabei chegando à conclusão de que isso daria um bom post para o blog. Primeiro, comecei a pensar num por que para a popularidade do Cinema e o fato de este ter se tornado uma indústria multimilionária ao redor do mundo. Cheguei à conclusão de que são as histórias. São elas que conectam as pessoas durante aquelas duas horas de projeção e fazem com que, na sala escura, não existam diferenças. Apenas seres humanos espectadores da mesma obra de arte e que estão sujeitos á emoções que podem ser ao mesmo tempo semelhantes ou bruscamente diferentes, dependendo da subjetividade do ponto de vista de cada um. Você se senta ao lado de um completo estranho, e naqueles momentos, todos são mergulhados nas emoções, idéias e conceitos passados pelo filme.

Retrocedendo um pouco e tirando o foco do Cinema, é possível analisar esse poder da história em outros contextos. Já li, por exemplo, que entre os índios brasileiros, toda a cultura, sabedoria popular e fatos são transmitidos verbalmente, devido à ausência de escrita, através de histórias e contos, que os mais velhos e vividos contam para os mais jovens com o intuito de passar sabedoria e toda a cultura de milênios de existência. Isso não ocorria apenas entre os índios brasileiros ou da América. Lembro-me de dezenas de histórias que meu avô a minha avó me contavam, ou mesmo meus pais, que ficaram marcadas em minha memória e fazem parte de quem em sou hoje.

Temos também toda a história escrita vinda de civilizações antigas, como a Mesopotâmia, Egito e outras que reforçam a importância de passar para as gerações futuras o conhecimento do presente, os registros escritos da Grécia antiga, berço da filosofia e do teatro no mundo. Só pra citar como exemplo, os diálogos de Platão. Existe também toda a monumental literatura da Europa desde os seus primórdios, com sua milenar cultura e escritores de ficção maravilhosos como William Shakespeare e suas peças de teatros geniais, Jane Austen com seus romances retratando o cotidiano de pessoas comuns da Inglaterra vitoriana, Julio Verne com seus livros de ficção científica avançados para sua época, etc, etc, etc... Tudo isso antes do advento do cinema no início do século XX...

Pois bem. Chegamos então à Sétima Arte. No início, os filmes eram basicamente curtas-metragens, mudos com a história contada através de legendas e o som feito através de um piano na sala de exibição ou até mesmo uma grande orquestra. Não demorou muito para o tamanho das películas passarem de curta para longa e o som ser introduzido. De lá pra cá, depois de um pouco mais de cem anos de história, houve grandes desenvolvimentos técnicos no Cinema, sejam na imagem (resolução, efeitos visuais e 3D) ou no som (mixagem e efeitos sonoros) que permitem que um diretor como James Cameron conte uma história que se passa em um mundo completamente novo e exótico em Avatar ou que outro diretor chamado Yojiro Takita conte uma história simples e extremamente profunda em A Partida. Mas uma coisa permanece: o uso artístico da linguagem cinematográfica para contar a história. Seja este uso feito através dos diálogos e a história que transcorre em si, ou aquele feito pelo uso das ferramentas não verbais de que o diretor dispõe como a direção de arte e composição de cenários, figurinos, trilha sonora, edição, movimentos de câmera e enquadramentos, atuação do elenco e tantas outras mais. Todas elas a favor do simples ato de contar a história para o expectador de forma que transmita a mensagem proposta e ainda seja um entretenimento agradável. É isso que o bom Cinema faz.

É óbvio que existem muitas porcarias medíocres no Cinema, na literatura e na TV, mas cabe a você, expectador e consumidor de todas essas mídias, escolher a dedo aquilo que você assiste ou lê. Não gaste seu tempo com lixo cultural sem qualidade artística ou sem profundidade emocional e de idéias. Porque, quando paro pra recordar, não me lembro do meu querido avô Zé contando nenhuma história que não valesse à pena ser ouvida.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Hamlet (Idem)

Hamlet (Idem) – EUA/Reino Unido – 1996 *****

Direção: Kenneth Branagh

Roteiro: Kenneth Branagh, baseado na peça de William Shakespeare

Quanto mais conheço o trabalho do inglês Kenneth Branagh mais cresce a minha admiração por seu talento tanto como diretor, roteirista ou como ator. Considerado um dos maiores intérpretes e conhecedores da obra de William Shakespeare de nosso tempo, ele já adaptou com muito sucesso duas obras do mestre do teatro: Henrique V (1989) e Muito barulho por nada (1993). Ambas com qualidade artística muito elevada. Adaptando em 1996 a obra máxima de Shakespeare, Hamlet, considerada uma das mais brilhantes do dramaturgo, Branagh se supera em todos os aspectos. A história é sobre o jovem Hamlet, que retorna da Inglaterra para a Dinamarca depois de concluir seus estudos e encontra sua mãe, a rainha, casada com seu tio dois meses depois da morte de seu pai. Deprimido e desconfiado diante da situação, Hamlet recebe a visita do fantasma de seu pai que lhe conta como foi assassinado friamente por seu irmão com o intuito de se casar com sua esposa e herdar seu reino. Determinado a extrair uma confissão de seu tio, Hamlet prepara uma peça com uma cena semelhante a do assassinato de seu pai para ver a reação de seu tio. Ao mesmo tempo tem que lidar com seu plano de vingança e o fato de o reino da Dinamarca estar sob ameaça de invasão. Com a escolha perfeita para o papel principal, ele mesmo, Branagh tem a oportunidade de mostrar todo o seu talento, e principalmente, a sua paixão por Shakespeare e tudo que este escreveu, com uma performance teatral, mas intensa e sensível na medida certa, ele chama a atenção para si em todos os momentos, seja nos de loucura de Hamlet, ou nos momentos intimistas e melancólicos, quando podemos escutar frases de peso como vinda de seus lábios como “Fraqueza, se nome é mulher...” ou “O resto é... silêncio”. Aliás, o roteiro adaptado por Branagh é recheado de momentos inesquecíveis e diálogos contendo muita intensidade dramática, fruto da obra em que foi inspirada e também da devoção de Branagh a ela. Um exemplo disso é quando ouvimos alguém dizer “Há algo de podre no reino da Dinamarca”. O filme conta com toda a grandiosidade de a obra de Shakespeare pede, com cenários imensos e luxuosos do palácio, locações com paisagens maravilhosas, figurinos formidáveis e uma trilha sonora de Patrick Doyle nada menos do que magnífica. Outro destaque fica por conta do elenco de apoio, com nomes como Kate Winslet (sempre ótima), Julie Christie, Derek Jacobi, Jack Lemmon, Billy Crystal (hilário), Judi Dench (sem nenhuma fala), Gérard Depardieu, Richard Attenborough, Robin Williams, Charlton Heston (que ator!). Só mesmo Kenneth Branagh para reunir tal elenco em torno do mesmo projeto. Mesmo com suas quase quatro horas de duração, com um intervalo no meio, o longa prende a atenção todo o tempo e nos mergulha no maravilhoso mundo do dramaturgo William Shakespeare e também no tão maravilhoso ator/diretor/roteirista Kenneth Branagh.

domingo, 14 de março de 2010

Simplesmente complicado (It’s complicated)

Simplesmente complicado (It’s complicated) – EUA – 2009 ***

Direção: Nancy Meyers

Roteiro: Nancy Meyers

Depois do ótimo Alguém tem que ceder e do razoável O amor não tira férias, Nancy Meyers investe nesta mais nova comédia romântica direcionada ao público de meia idade intitulada no Brasil de Simplesmente complicado. O longa traz como protagonista a talentosa Meryl Streep, que neste ano de 2009 estrelou Julie & Julia, da diretora Nora Ephron tão razoável quanto Meyers. No filme, Meryl Streep é Jane, dona de uma confeitaria de sucesso, mãe de três filhos e divorciada a dez anos de Jake (Alec Baldwig) que se casou com uma mulher mais jovem com quem planeja ter um filho. Quando finalmente está encontrando equilíbrio em sua vida emocional, Jane acaba bebendo um pouco demais junto com seu ex e comete a besteira de ir pra cama com ele e a partir daí, começam a ter um affair. Nesse meio tempo, começa uma amizade com potencial de namoro com Adam (Steve Martin), arquiteto que está reformando sua casa. O roteiro de Meyers não é tão genial. Pra falar a verdade, não é nada genial. Mas é o talento de seus três protagonistas que faz com que o filme seja divertido e prenda a atenção. Jane é uma personagem mal desenvolvida, que mostra insegurança diante de quase tudo em sua vida, salvo alguns momentos de lucidez. E se Meyers acha que mulheres inseguras são engraças, ela está enganada. Isso pode até render umas gags cômicas divertidas, mas demonstra um pouco de machismo da diretora, que parece achar que todas as mulheres são inseguras por natureza e que precisam de um homem desesperadamente para “colocá-las no eixo”. O charme do filme fica por conta do relacionamento de Jane e Jake, que reatam depois de dez anos separados e conseguem demonstrar o nível de intimidade do casal que conhece muito bem um ao outro e o quanto eles se divertem juntos. O relacionamento entre Jane e Adam também é bem desenvolvido, mas nunca chega a cativar tanto quanto o outro. O roteiro deixa algumas pontas soltas, como a presença do círculo de amizades de Jane, que só aparece de vez em quando para falar mal dos homens e desaparece no momento seguinte sem deixar rastros na vida da protagonista ou a respeito de Jake e sua atual família, a qual ele abandona e Meyers não se preocupa em apresentar as conseqüências ou uma solução para isso. Sendo divertido por conta do carisma e talento de seus protagonistas, Simplesmente Complicado vale o preço do ingresso.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Invictus (Idem)

Invictus (Idem) – EUA – 2009 ***

Direção: Clint Eastwood

Roteiro: Anthony Peckham, baseado no livro de John Carlin

Dono de uma filmografia muito regular, Clint Eastwood já dirigiu verdadeiras obras de arte memoráveis do cinema como As pontes de Madison, A troca, Menina de Ouro, Cartas de Iwo Jima, A Conquista da Honra, Sobre meninos e lobos só pra citar alguns e sem contar todos os longas do início de sua enorme carreira dos quais ainda não assisti a muitos, e outros não tão memoráveis assim, como este novo Invictus. O filme conta a história de Nelson Mandela (o sempre maravilhoso Morgan Freeman) quando este assume a presidência da África do Sul logo depois do apartheid. Percebendo que o país ainda se encontra dividido pelo preconceito racial, Mandela decide usar o rugby e a Copa Mundial como uma forma para unir a população. Para isso, chama o capitão do time, Francois Pienaar (Matt Damon) para uma reunião e o convence que o time pode vencer mesmo depois de uma campanha ruim e o quanto isso é importante para o povo. Introduzindo a história muito bem no primeiro ato, Eastwood situa com talento a situação política e social do país e principalmente, a personalidade de Mandela e o que ele representa para o povo, tanto os que o apoiavam quanto os que o odiavam. E nesse ponto é o talento de Freeman que entra em ação. Conseguindo transmitir todo o carisma e sabedoria daquele que foi um dos maiores líderes políticos de nosso tempo, Freeman encarna tanto na voz e sotaque, quanto em sua aparência física e até mesmo o jeito de andar a personalidade de Mandela. O filme perde um pouco da força no segundo ato em diante, se transformando apenas num filmezinho de esportes, daqueles que mostram a trajetória de um time que era ruim e chegou à vitória. Outro erro do roteiro é o fato de abordar um problema físico de Mandela sem levar isto adiante e apresentar um desfecho para esse aspecto da história, tornado-se um arco dramático completamente sem propósito. O filme peca também em passar a falsa ilusão de que uma Copa do mundo de rugby pode ser a solução de todos os problemas sociais de um país. É claro que a jogada política de Mandela foi genial, mas estava longe de resolver o preconceito racial de centenas de anos de história. Parece que Eastwood tratou do assunto com certa inocência, ou complacência em demasia. Temos ainda a performance do carismático Damon, que é eficiente, mas recebeu uma indicação ao Oscar não merecida. Deveria ter sido indicado por O Desinformante. No mais, a fotografia e a direção de arte são interessantes como de costume, mas nada que se destaque na narrativa do projeto. Por fim, Invictus é uma experiência cinematográfica agradável, mas sem muita profundidade.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Oscar 2010 - Vencedores

A cerimônia deste ano foi bem interessante e com algumas diferenças, umas para melhor, outras nem tanto. A mudança pra melhor foi a presença de dois hosts, Steve Martin e Alec Baldwing que tiveram uma dinâmica boa e na maior parte do tempo engraçada. A mudança para pior foi o corte das apresentações das músicas indicadas na categoria de "melhor canção" com o objetivo de diminuir a duração da cerimônia. Geralmente gerava bons números e dava mais prestígio às canções. Mas, enfim, vamos aos prêmios. Guerra ao terror saiu como o grande vencedor da noite, com seis prêmios, incluindo "Melhor filme". Com certeza nenhum deles foi desmerecido, mas confesso que gostaria de ver Avatar com um ou dois prêmios a mais. Mas nem tudo é perfeito. A decepção da noite ficou por conta da premiação de Sandra Bulock na categoria de "Melhor atriz". O filme é ruim e a performance dela é no máximo legalzinha. Perto de Meryl Streep ou Gaborn Sidibe, Bulock é nada mais do que uma atriz razoável. Apesar dos pesares, eu me diverti bastante na companhia de ótimos amigos, a saber: Viviane, Carol e Pablo Vilaça (em videocast). Vamos agora aos vencedores.

Melhor filme: "Guerra ao terror"

Melhor direção: Kathryn Bigelow, “Guerra ao terror

Melhor atriz: Sandra Bullock, "Um sonho possível"

Melhor ator: Jeff Bridges, “Coração louco”

Melhor filme estrangeiro: “O segredo dos seus olhos” (Argentina)

Melhor edição (montagem): “Guerra ao terror

Melhor documentário: “The cove”

Melhores efeitos visuais: “Avatar

Melhor trilha sonora: “Up – Altas aventuras”

Melhor cinematografia (fotografia): “Avatar

Melhor mixagem de som: “Guerra ao terror

Melhor edição de som: “Guerra ao terror

Melhor figurino: “The young Victoria”

Melhor direção de arte: “Avatar

Melhor atriz coadjuvante: Mo’Nique, “Preciosa

Melhor roteiro adaptado: “Preciosa

Melhor maquiagem: “Star trek”

Melhor curta-metragem: “The new tenants”

Melhor documentário em curta-metragem “Music by Prudence”

Melhor curta-metragem de animação: “Logorama”

Melhor roteiro original: “Guerra ao terror

Melhor canção: “The weary kind”, de “Coração louco"

Melhor animação: “Up – Altas aventuras”

Melhor ator coadjuvante: Christoph Waltz, “Bastardos inglórios”

quarta-feira, 3 de março de 2010

A saga do Oscar na Globo

Que a Globo não tem respeito pelos seus telespectadores todos sabem. Mas parece que neste ano, depois de conseguir com muito custo os direitos da transmissão do Oscar do SBT desde o ano passado, a emissora de Roberto Marinho decidiu surpreender ainda mais. No último ano Globo não transmitiu a cerimônia para poder passar bundas e peitos (a saber, o Carnaval). Esse ano a emissora platinada não vai transmitir a cerimônia decentemente pelo mesmo motivo (bundas e peitos) só que desta vem em outro contexto: no medíocre BBB. Considerada a terceira maior emissora de TV do mundo, a Rede Globo pra mim não passa de uma grande farsa. Ocupando pelo menos uns 40% de sua programação com novelas medíocres (existe outro tipo?) e os outros 60% balanceados entre jornalismo tendencioso, desenhos animados, programas de auditório chatos e outras bobagens alienadas, é fácil notar que qualidade não é o lema da empresa. A emissora está apenas atrás de audiência, custe o que custar. E é nesse caminho que os espectadores ficam prejudicados. Os cinéfilos sem TV a cabo e aqueles interessados em assistir a cerimônia da premiação de cinema mais importante do mundo são obrigados a ver a eliminação de futuros ex-famosos enquanto assistem a flashs da cerimônia nos intervalos. Será que seria um sacrifício financeiro tão grande ou mesmo um demasiado compromisso com a qualidade terminar mais cedo o importante BBB ou cancelá-lo por um dia em detrimento da cerimônia? A globo só joga o joguinho de “eu tenho a bola e ninguém mais brinca”. E, além disso, todas as transmissões do Oscar feitas pela emissora foram decepcionantes, com péssimas traduções simultâneas e ainda piores comentaristas. Mas eu acho que esse post é fruto de um sentimento meio que infantil, de alguém que praticamente não assiste TV, mas que ingenuamente esperara alguma coisa boa depois de ouvir o “plim plim” ou qualquer outro jingle da decadente TV aberta brasileira.