segunda-feira, 26 de abril de 2010

Alice no país das maravilhas (Alice in Wonderland)

Alice no país das maravilhas (Alice in Wonderland) – EUA – 2010

Direção: Tim Burton

Roteiro: Linda Woolverton, baseado no romance de Lewis Carroll

Um dos romances ingleses mais cultuados e importantes, Alice no país das maravilhas de Lewis Carroll é um livro cheio de simbolismos e significados. Já ganhou mais de trinta versões cinematográficas, sendo a de Tim Burton, especialista em criar mundos estranhos e góticos, uma das mais aguardadas da atualidade. E não decepcionou.

Alice (Mia Wasikowska) é uma jovem de 17 anos que se encontra em um impasse. É praticamente obrigada pela família e pela sociedade a se casar com um Lord chato e sem graça. Diante do inevitável, Alice encontra um jeito de se livrar de sua dura realidade. Vê um coelho de paletó e o acompanha. Ele a leva para uma toca, na qual ela cai e vai parar em um mundo subterrâneo completamente novo pra ela, onde os animais falam, gatos desaparecem e onde quem reina é a Rainha de Copas, uma mulher maligna, que a procura com o intuito de cortar a cabeça, por já saber que Alice representa uma ameaça a seu reino. Sem saber o que fazer, nem mesmo se ela é a Alice de quem todos falam, a menina acaba por encontrar amigos como o Chapeleiro maluco, a Lagarta azul, a Rainha branca (Anne Hathaway) e o Gato risonho, que a ajudam em sua empreitada, que teoricamente é assassinar o monstro que apavora a todos e que segue ordens da Rainha de Copas.

O tom da narrativa muitas vezes soa um pouco episódico, parecendo uma seqüência de capítulos, o que, para um filme, é um defeito. Mas a história não deixa de prende a atenção em nenhum momento, com seu visual impressionante e seus efeitos visuais excelentes.

A direção de arte é muito talentosa. Basta prestar atenção nos detalhes, como o arbusto no jardim da Rainha de Copas com a forma de sua cabeça. Mostra o egocentrismo da mesma e presta uma homenagem a Burton (Edward, mãos de tesoura). O que vemos na tela não deixa de impressionar e nenhum momento.

As performances são caricatas, exatamente o que se esperava com uma história como essas. Johnny Depp é um ótimo Chapeleiro maluco, mas não tem muito tempo para se desenvolver em tela. A dancinha final é imperdoável. Mia Wasikowska é bastante inexpressiva e sem graça, sendo a personagem menos interessante do filme. O destaque fica por conta dos vilões, Crispim Glover como o Valete de Copas e principalmente Helena Bonham Carter como a temível Rainha de Copas gritando “cortem as cabeças!!” a torto e direito. Imperdível. É a única também que consegue imprimir mais profundidade em sua personagem, demonstrando sutilmente um trauma de infância devido a sua cabeça gigante.

Alice no país das maravilhas não é o melhor filme de Tim Burton, mas com certeza deve ser visto. Deixa um sentimento de que poderia ser algo mais pra quem conhece o trabalho do diretor, mas ainda assim é digno de elogios.

Nota: 8,5

A letra escarlate (The Scarlet letter)

A letra escarlate (The Scarlet letter) – EUA – 1995

Direção: Roland Joffé

Roteiro: Douglas Day Stewart, baseado no livro de Nathaniel Hawthorne

Histórias de amor impossíveis são sempre fonte de bons filmes e histórias devido ao seu alcance universal e a humanidade que seus personagens geralmente exibem, vide Titanic, As pontes de Madison e O segredo de Brokeback Mountain, Romeu e Julieta entre outros. Esse ótimo A letra escarlate é um desses, que toca ainda mais as pessoas por tratar do assunto religião e como as pessoas muitas vezes são julgadas ou até mesmo subjugadas por ela.

O filme é sobre a Sra. Prynne (Demi Moore), uma bela mulher casada com um médico (Robert Duvall) que se instala na comunidade de Massachussetts em Bay Colony no ano de 1666 antes de seu marido, com a finalidade de providenciar o lar para o casal. O que ela não esperava era que iria se apaixonar pelo reverendo Arthur Dimmesdale (Gary Oldman), visto que ela se encontrava sozinha e carente, vivia em um casamento infeliz e encontrou no Reverendo um homem que supria todas as suas necessidades: ele possuía sabedoria, carinho e paixão. Primeiro, atormentados por estarem cometendo adultério, o casal de amantes não se permite ficar junto. Depois, mesmo sabendo da morte do marido da Sra. Prynne, os dois ainda não podem assumir o relacionamento, tendo que esperar segundo a religião, no mínimo, sete anos depois da morte do marido. Diante do fato de terem que esconder seu amor de todos, os dois descobrem que a Sra. Prynne está grávida e que será punida por tal fato. Não revelando o nome do pai da criança, ela fica marginalizada e é obrigada a usar a letra “A” em seu peito como sinal de vergonha e culpa.

Criado em uma família americana puritana, Nathaniel Hawthorne consegue, com sua experiência de vida, trazer à tona em seu livro o conflito mais básico dos seres humanos: a luta entre os valores morais e religiosos e os desejos e paixões naturais. E nisso, a direção de Joffé é muito bem sucedida, por conseguir mostrar o conflito, sem tender para nenhum dos lados. Só esse feito já é digno de méritos. Não que os puritanos sejam retratados de forma suave. Muito pelo contrário. Eles surgem como criaturas moralistas, preconceituosas e religiosas ao extremo. Os ingredientes que resultaram em todas as barbáries cometidas pela raça humana. E o dilema enfrentado pelo Reverendo e pela Sra. Prynne é brilhantemente tratado pelo roteiro e pelas performances de Demi Moore, a mulher forte e inabalável, e Gary Oldman com o reverendo, mostrando o conflito interno pelo qual seu personagem passava de forma profunda e marcante; um ator excepcional que admiro muito.

Destaque para a cena do parto, uma das mais emocionantes cenas de parto que já vi. A câmera faz um traveling de quase 360 graus, sem corte ao redor da cama em que se encontra a Sra Prynne e a parteira. A cena é forte e tocante. Um momento que me incomodou no filme foi a cena de amor entre o casal, que é intercalada com a empregada tomando banho na banheira da patroa assistida por um pássaro vermelho. Não consigo ver nenhum propósito nisso. Mas não prejudicou o resultado final do longa.

O filme é uma superprodução, que conta com cenários e locações grandiosas, figurinos exuberantes e ótima trilha sonora. A letra escarlate é um filme importante e bom entretenimento.

Nota: 9

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Casablanca (Idem)

Casablanca (Idem) – EUA – 1942

Direção: Michael Curtiz

Roteiro: Julius J. Epstein, Philip G. Epstein e Howard Koch, baseado na peça de Murray Burnett e Joan Alison

Filmes noir que combinavam mistério, suspense, romance, investigações criminais e intrigas eram produzidos às dezenas em cada mês na década de 40. Mas o que faz com que Casablanca se destaque na multidão de títulos e entre para a eternidade como um dos filmes mais encantadores e marcantes de todos os tempos? A minha resposta seria: o romance e a direção de Curtiz.

O cenário é a cidade de Casablanca, situada no norte da África e que servia de ponto de passagem para os refugiados da Segunda Guerra que desejavam ir para a América. O ano é 1942, época em que o mundo via Hitler dominar grande parte da Europa e perseguir seus opositores. É quando conhecemos o misterioso Rick (Humphrey Bogart), dono do bar mais freqüentado da cidade que rejeita o amor de mulheres que caem a seus pés e se mostra completamente imparcial quando o assunto é guerra. Sua paz é perturbada quando encontra por coincidência em seu bar a mulher que descobrimos ser sua grande decepção amorosa, Ilsa (Ingrid Bergman), acompanhada de seu marido, importante líder da resistência contra os nazistas. O casal está em busca de dois vistos para poderem fugir para a América. Rick, por fatalidade, possui os vistos, o que o leva a ficar dividido entre o ódio pela rejeição de Ilza, seu amor inegável e seu dever enquanto cidadão do mundo.

Com uma história simples como essa, Casablanca poderia ser mais um das centenas de títulos produzidos pelos estúdios. Mas não é. A qualidade de direção de Curtiz imprime um charme e encanto à história que jamais ninguém conseguiu copiar, mesmo com as inúmeras tentativas, refilmagens para o cinema ou TV. Os movimentos de câmera elegantes que acompanham os personagens dentro do bar são inesquecíveis. Seus zoom in e zoom out nos rostos dos personagens são característicos e inconfundíveis. Seus enquadramentos e composições de quadros são cheios de significado. Só pra citar um exemplo, quando Rick vai para sua sala com o intuito de pegar dinheiro no cofre, seu físico junto com os elementos do cenário projetam uma sombra na parede com formato de buraco de fechadura. Só isso já dá pra sentir o cuidado de Curtiz com a composição visual do filme. Outra aspecto brilhante de Curtiz é a qualidade artística que ele imprime no relacionamento do casal protagonista e dos conflitos pelos quais estes passam. Por um lado, Ilza amava o líder e os ideais que Lazlo, seu marido, representava e por outro, Rick era a paixão avassaladora que ela viveu em Paris que se tornou inesquecível pra ela. Rick é a figura do homem desiludido com o amor e com a vida, que projeta nos outros a sua falta de fé nos seres humanos. Lazlo é a própria encarnação dos ideais e liderança que todo o mundo precisava naquele momento. Sua atitude em relação a Ilza quando descobre o seu segredo é simplesmente impressionante e digna de admiração.

Humphrey Bogart e Ingrid Bergman formam um dos casais mais charmosos e carismáticos do cinema até os dias de hoje. Com uma beleza etérea, encanto e presença inigualáveis, Bergman é a perfeita Ilza. Não tem como imaginar outra atriz no seu lugar. Bogart encarna Rick de forma perfeita. Com o cenho cerrado e o seu charme característico, seu Rick é impagável quando diz, depois de perguntado qual sua nacionalidade “sou um bêbado”, e quando fala “estou de olho em você, garota” e “esse é o começo de uma vela amizade”. O filme é cheio de personagens quadjuvantes inesquecíveis. Major Strasser, Capitão Renault, o barman de Rick, o trombadinha que assalta os clientes do bar, entre outros. Todos eles interpretados com performances inspiradas pelo grande elenco.

O desfecho, que pode não agradar a todos, é a forma mais genial de finalizar a história. Como Ilza mesmo falava com Rick, “nossa história está inacabada, precisa de um final...”. Deixando o desfecho convencional de lado, o roteiro (que segundo muitos, era escrito e modificado todos os dias no set de filmagem) escolhe a saída mais idealista e com mais significância, fazendo assim, com que o filme entrasse para a história.

Obrigatório para qualquer pessoa, Casablanca é um filme atemporal e inesquecível.

Nota: 10

Chico Xavier (Idem)

Chico Xavier (Idem) - Brasil - 2010

Direção: Daniel Filho

Roteiro: Marcos Bernstein, baseado no livro As vidas de Chico Xavier

Foi com surpresa que saí da sala de cinema depois de assistir ao novo filme de Daniel Filho, Chico Xavier. Sendo ele em meu conceito até o momento um cineasta bastante medíocre, ele conseguiu me surpreender com essa cinebiografia do mais famoso médium brasileiro.

Deixando o lado espiritual e de fé de lado, a vida do homem Chico Xavier me impressionou muito. O filme, apesar de deixar a sensibilidade de lado em alguns momentos, conseguiu retratar com bastante sentimento e qualidade artística a vida do médium que dedicou toda a sua existência a ajudar o próximo, independente de posições religiosas, fé ou ausência dela.

Eu, como cristão, não conhecia praticamente nada da vida de Chico e também não li o livro no qual se baseia a produção. Então, não sei dizer se os problemas do filme vêm do livro, do roteiro adaptado ou da direção de Daniel Filho. Acredito que seja da direção, mas o longa, de forma geral me agradou e me tocou bastante.

O destaque fica por conta das atuações, seja do garoto Matheus Costa que interpreta Chico na infância com muito talento, seja pelo ótimo Ângelo Antônio que ganha maior tempo na tela e por conseqüência, desenvolve melhor o seu trabalho de atuação e também Nelson Xavier, que interpreta Chico na velhice, conseguindo transmitir toda a aura de espiritualidade e também humanidade do homem. Outra atuação que se destaca é a de Tony Ramos como o cético Orlando, que apesar de prejudicado um pouco pela direção de Daniel Filho que o coloca bebendo todo o tempo que está em cena, no momento final do filme, em que seu personagem se rende à veracidade da carta que lê, expressa tudo apenas pela ausência de palavras. Um momento muito tocante.

Um dos defeitos da direção reside, como já disse, na falta de sensibilidade de Daniel Filho. Ele mostra, por exemplo, uma luz vermelha em primeiro plano quando o assunto é o bordel da cidadezinha ou estraga uma piada que se passa no avião que poderia ser muito engraçada. Mesmo com esses problemas entre outros, o filme ainda consegue ser um ótimo registro sobre a vida do médium.

A parte técnica do filme é correta. Figurinos, trilha sonora e direção de arte cumprem o seu papel sem nenhum destaque maior.

Por fim, Chico Xavier vale o preço do ingresso.

Nota: 7

domingo, 11 de abril de 2010

O Poderoso Chefão (The Godfather)

O Poderoso Chefão (The Godfather) – EUA – 1972

Direção: Francis Ford Coppola

Roteiro: Mario Puzo e Francis Ford Coppola, baseado no livro de Mario Puzo

São poucos os filmes à que assistimos que nos tocam e impressionam tão profundamente que fazem com que tenhamos vontade de assisti-los várias e várias vezes. Esse é o caso de O Poderoso Chefão. Essa obra prima (no melhor sentido da palavra) foi dirigida por Coppola com a impressionante idade de trinta e três anos e poucos filmes no currículo. A Paramount apostou alto no cineasta e teve o retorno. Três Oscars (incluindo melhor filme e ator para Marlon Brando) e sucesso nas bilheterias. A obra é de uma profundidade dramática e artística tão grande que não me considero em condições de escrever sobre ela. Mas vou tentar.

A história é sobre a família Corleone, que veio da Itália para os Estados Unidos e acaba por se estabelecer como a mais influente família da máfia estrangeira no país através da pessoa de Don Vito Corleone (Marlon Brando). Os Corleone enfrentam uma crise nos negócios com as outras cinco famílias devido a estas terem o desejo de entrar para o ramo do tráfico de narcóticos, ao passo que Don Corleone se opõe pelo fato disto ir contra os seus princípios de conservação da família. Sendo uma peça fundamental para a entrada das famílias no negócio devido à sua influência na política, polícia e justiça, Don Corleone e sua família passam a sofrer perseguições violentas por parte dos outros chefões e ao mesmo tempo têm que lidar com crises internas na família.

O roteiro escrito por Mario Puzo e retocado por Coppola é simplesmente genial. A forma como ele desenvolve os personagens a história com sutilezas e cenas fortes é impressionante. Vamos conhecendo cada um deles mais profundamente à medida que a história avança através de suas atitudes e decisões. Ao mesmo tempo em que o enredo não é previsível, entendemos perfeitamente porque cada personagem agiu de certa forma ou de outra como uma conseqüência natural de suas cargas emocionais e temperamentos, e acima de tudo, sua ligação com a família. O roteiro é ainda recheado de diálogos fortes e frases memoráveis que fazem parte da cultura pop atualmente, como “vou lhe fazer uma proposta que ele não poderá se recusar”.

Coppola, apesar de sua inexperiência como cineasta demonstra talento e sensibilidade inigualáveis na direção. Cada cena foi pensada com enorme cuidado. Os movimentos de câmera e enquadramentos são geniais. Além de serem bonitos de se ver, são cheios de significados. Um exemplo é a seqüência inicial, um diálogo entre Don Corleone e um homem que lhe pede um favor. A câmera vai se afastando do homem à medida que ele fala, como se o próprio Don Corleone estivesse se afastando do homem e de seu pedido. Outro momento forte é uma briga de casal em que a câmera de Coppola, se corte nenhum, acompanha o casal pelo apartamento enquanto eles brigam fisicamente e verbalmente. Esses são só dois exemplos do virtuosismo de Coppola que se repete ao longo de todo o filme em todas as cenas. Cada movimento de câmera, enquadramento e até mesmo elementos de cenário têm suas funções que ajudam a contar a história. Isso sem contar na fotografia maravilhosa em que predominam os tons de laranja e os tons mais escuros, realçando a beleza de cada cenário e locações, como na cena do casamento e principalmente nas locações na Cicília. Simplesmente lindas. Outro destaque é a trilha sonora do italiano Nino Rota. Ninguém melhor do que um italiano para compor a trilha marcante que embala a vida dos Corleone.

As atuações estupendas abrilhantam ainda mais a obra. A começar por Marlon Brando, ator lendário de Hollywood. Ele cria um Don Corleone inesquecível, com a voz rouca e cansada de uma pessoa velha (Brando não era velho quando fez o filme) o andar vacilante e extremamente expressivo. Conseguimos perceber os sentimentos e pensamentos de Don Corleone através de sutilezas de interpretação, como quando ele descobre que um parente próximo foi assassinado e exprime sua tristeza (um dos momentos mais tocantes do filme) ou quando vê seu filho o visitando no hospital e esboça um pequeno sorriso. O espectador consegue entender todo o poder da influência de Don Corleone sobre sua família, empregados e na sociedade americana. Sua inteligência e sagacidade são perfeitamente encarnadas por Brando. Al Pacino também brilha e demonstra com muito talento o processo pelo qual Michael passa dentro da família: primeiro, a rejeição do modo de vida de sua pai e irmão, depois impotência e por fim aceitação de suas origens e destino, por assim dizer. Diane Keaton está ótima como a mulher dividida entre os seus princípios e o amor pelo marido; seu papel se desenvolve muito mais ao longo dos três filmes. James Caan dá vida ao impulsivo Sonny com intensidade e Robert Duvall tem uma performance extremamente sensível e ao mesmo tempo intensa no difícil papel do advogado/filho dos Corleone.

Se tratando da ascensão e queda de Michael Corleone, o verdadeiro protagonista da trilogia, O Poderoso chefão é umas das obras de qualidade artística mais elevadas que Hollywood já produziu.

Nota: 10

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Lendo as imagens do cinema

Lendo as imagens do cinema

Autores: Laurent Jullier e Michael Marie

Editora Senac, São Paulo - 2009

Para quem é leigo na arte do Cinema como eu e que adquiriu o seu conhecimento apenas vendo filmes, lendo críticas e sites na rede, o livro Lendo as imagens do Cinema é uma leitura muito interessante. Para pessoas com uma bagagem já adquirida, creio que será uma leitura um pouco chata e repetitiva, mas pra mim, foi mergulhar em todo um maravilhoso mundo novo de conhecimento, dos quais apenas ouvia alguns termos aqui e ali, sem de fato entender o que eles significavam.

O livro se prende aos conceitos de plano e seqüência que são as bases da imagem do cinema. Ele discursa largamente sobre cada um e dá muitos exemplos de filmes conhecidos, todos ilustrados abundantemente. Essa á a parte mais interessante do livro.

A segunda parte se dedica a analisar seqüência de filmes importantes, indo de Cantando da Chuva e Crepúsculo dos Deuses até Shrek 2 e Titanic. Essa parte também é bastante interessante, principalmente se o capítulo aborda um filme que você gosta, mas a análise quadro-a-quadro pode ficar um pouco maçante, às vezes. Ao todo são analisados vinte e seis seqüências minuciosamente, dissecando movimentos de câmera, enquadramentos e técnicas visuais. Senti falta da análise do uso da linguagem cinematográfica em cada seqüência. O autor se restringiu à parte técnica e gráfica, sem se importar com o que de fato aquilo significa para o espectador como resultado final com a seqüência finalizada com todos os seus elementos (trilha sonora, diálogos, efeitos sonoros, etc.). Isso é mais presente na primeira parte do livro.

De forma geral, Lendo as imagens do Cinema é uma ótima leitura para quem quer se aprofundar um pouco na Sétima Arte e entender o ofício de fazer Cinema.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Os Espíritos (The Frighteners)

Os Espíritos (The Frighteners) – EUA/Nova Zelândia – 1996

Direção: Peter Jackson

Roteiro: Peter Jackson e Frances Walsh

Peter Jackson inicia Os Espíritos com um pequeno plano seqüência em velocidade rápida que começa no exterior chuvoso de uma das torres da mansão assustadora dos Wallace-Stone, entra pela janela do sótão, passa por um buraco no chão e acompanha a desesperada Patricia descendo as escadas fugindo de um espírito maligno que a persegue. Por essa cena de poucos segundos Jackson já demonstra a que veio nesse ótimo thriller de terror com toques de humor ácido e sarcástico.

A história é sobre Frank (Michael J. Fox), um médium charlatão que, ajudado por seus três amigos espíritos, usa seus “poderes sensitivos” para arrancar dinheiro de pobres desavisados que são atormentados propositalmente por seus três parceiros de trabalho. Depois de conhecer a bela Dra. Lucy (Trini Alvarado) resolve escolhê-la como alvo do seu próximo golpe. É quando, depois de executado o serviço, enxerga um número estranho escrito em letras de fogo na testa de Ray, o estúpido marido da moça. Aquilo soa normal, até que mais tarde, descobre que Ray morreu instantaneamente do que pareceu ser um ataque cardíaco fulminante. Se encontrando com o espírito do morto chorando em seu próprio velório (o mais emocionado de todos os presentes) Ray pede a ajuda de Frank para resolver seus assuntos inacabados com sua esposa viúva, o que resulta em uma hilária cena num restaurante. Lá Ray vê outro homem com a marca do número na testa e assiste, sem poder fazer nada, a seu assassinato causado por um espírito envolto em uma capa preta. É então que descobre que as mortes têm relação e decide investigaá-las e tentar impedir o misterioso espírito negro, que se assemelha à própria imagem da morte.

Com essa premissa, Peter Jackson consegue extrair o máximo de ação, terror e, surpreendentemente, humor de algo que a primeira vista parece tão sério e assustador. Não que o filme não assuste. Assusta sim, e muito. É repleto de suspense e ação frenética, com tom de urgência durante todo o longa (lição que Jackson aprendeu bem com Steven Spielberg), criando tensão ao longo de toda a história, seja com a trilha sonora, com truques de câmera e efeitos visuais muito bem realizados. Aliás, os efeitos visuais surgem como um recurso que somente ajuda a contar a história, não como uma razão para contá-la. Isso é raro no cinema depois do advento do CGI. A direção de Jackson é gráfica no último grau. Ele usa as imagens como uma ferramenta poderosa para causar emoções. Exemplo disso é a câmera que corre atrás ou na frente dos personagens simbolizando o desespero dos mesmos e a urgência da narrativa, ou mesmo a câmera que sobrevoa os telhados das casas, o que causa até vertigem e nos dá a perspectiva daquele espírito voador, e os pequenos planos seqüência como o que descrevi no início. A câmera de Jackson se mantém sempre em movimento quando se apresenta necessário, ou mesmo num super close, como no interrogatório de Frank feito pelo excêntrico agente do FBI especializado em assuntos sobrenaturais. A câmera de Jackson se aproxima da boca e olhos do homem e balança de um lado para o outro enquanto ele fala, ao mesmo tempo em que Frank se vê exausto pelas perguntas e devido a tudo o que passou até o momento. Além do ótimo diálogo, as imagens já dizem quase tudo.

Juntamente com a virtuosa direção de Jackson, o ótimo roteiro escrito por ele e Frances Walsh surpreende em todo o momento, sem deixar nenhuma ponta solta na história e se mostrando original à cada cena. Coisa difícil de ver em Hollywood. Os diálogos são afiadíssimos com falas inesquecíveis como “quando o maxilar de um homem cai, é hora de rever os conceitos” ou quando Ray, depois de escutar uma ofensa seguida de um elogio para si em seu próprio sepultamento, se agarra ao elogio e diz “eles não mentiriam em um momento desses... eu sou uma boa pessoa...”. Outro momento genial do roteiro se dá no terceiro ato, quando Frank e Lucy se encontram no hospital abandonado e tem que enfrentar todas as ameaças que os perseguiram durante todo o longa: o casal de assassinos e um desequilibrado sujeito que supostamente deveria ajudá-los, culminando num clímax sufocante.

Isso nos leva às atuações. Michael J. Fox exibe o mesmo carisma e talento que demonstrou na trilogia De Volta para o Futuro, filmes em que trabalhou com o produtor deste Os Espíritos, Robert Zemeckis. Mesmo vendo as atitudes detestáveis do pilantra Frank, não conseguimos sentir antipatia pelo rapaz, porque Fox consegue mostrar a humanidade de Frank nos flashbacks e o que o levou a agir daquele jeito reprovável. Outras performances imperdíveis são as do trio de fantasmas que ajudam Frank e principalmente, a do agente neurótico do FBI. Simplesmente hilariantes.

A parte técnica do filme é impecável, como de costume nos filmes de Jackson. Cenários, trilha sonora, efeitos visuais, fotografia e locações maravilhosos. Não tem como não se assustar ao ver a mansão dos Wallace-Stone, ou na cena final no hospital, quando acompanhamos o presente e o passado diferenciados pela fotografia. A idéia de colocar os assassinatos em série sendo revividos por Frank foi simplesmente genial.

Por fim, Os Espíritos é ótimo Cinema para pessoas que, como eu, não curtem muito o terror pastelão (que é como eu chamo os filmes de terror bobos e sem conteúdo), mas que gostam de ver uma boa história dirigida por um dos jovens mestres do cinema atual.

Nota: 10
P.S.: Peter Jackson faz uma pequena aparição como o homem com piercings. Algo como Alfred Hitchcock fazia em seus filmes.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Como treinar seu dragão (How to train your dragon)

Como treinar seu dragão (How to train your dragon) – EUA – 2010 *****

Direção: Peter Hastings

Roteiro: Dean DeBlois e Chris Sanders, baseado em história de Cressida Cowell

Numa ilha chamada Berk habitada pelos vikings em algum lugar da Europa medieval, matar dragões era a prática mais comum entre os habitantes homens porque obviamente os animais monstruosos representavam uma ameaça constante a todos. Nesse cenário, conhecemos o garoto Soluço, magrelo e desengonçado que não herdou muito da virilidade e habilidade de matar do pai. Ele está diante de um momento decisivo em sua vida: ter que matar um dragão como uma espécie de rito de passagem. O problema é que ele não consegue se imaginar realizando esta tarefa por falta de habilidades físicas e também por falta de coragem, digamos assim, o que piora ainda mais quando o garoto salva um dragão ferido e se torna amigo do bicho secretamente. Com um currículo de filmes muito bons (Shrek, Kung Fu Panda, Os sem floresta, Monstros Vs Alienígenas, Por água abaixo) e outros não tão bons (O espanta tubarões, Bee Movie, Madagascar) a Dreamworks tem despontado nos últimos anos como um dos grandes estúdios produtores de filmes de animação em computação gráfica, perdendo apenas para a Pixar em qualidade artística e técnica. Este mais novo Como treinar seu dragão se encaixa na categoria dos bons. Na verdade, excelente. O visual do filme é impressionante e original. Os bichinhos fofinhos, o fundo do mar, etc já foram mais do que explorados pelo cinema de animação, mas a idéia de contar uma historia abordando um povo vikings foi bastante original pra mim. E ainda adicionar dragões, as criaturas lendárias. Os personagens têm visual marcante e são muito expressivos, como de costume nos filmes da Dreamworks. O diretor Hastings demonstra talento na composição dos quadros e nos movimentos de “câmera”, com tomadas longas e elegantes que ajudam a contar a história que tem toques de épica e grandiosa (vide a trilha sonora). O fio condutor da trama fica por conta do relacionamento de Soluço com seu pai, que passa por uma crise justamente porque o pai quer algo do filho que este não pode dar, neste caso, ser forte, violento e matar dragões, já que a muitas gerações é assim que eles fazem. Esse conflito gera decepção e desentendimento, trazendo complexidade e peso dramático para o filme. E principalmente, ensinando uma lição profunda e longe de ser piegas às crianças que assistem e também a seus pais que as acompanham. Existe algo mais simples e profundo do que entender e aceitar as diferenças entre as pessoas? É com essa preocupação de passar uma mensagem ao invés de só contar uma historinha divertida que a Dreamworks atinge um patamar diferente dos muitos estúdios de animação. Mas, por falar em diversão, o filme tem de sobra. Recheado de gags cômicas ótimas e inteligentes, não tem como não rir diante das trapalhadas de Soluço, seu dragão que mais parece um cão de estimação e todas as seqüências de ação do longa, brilhantemente dirigidas. A dublagem brasileira é muito bem realizada (não sei o nome dos dubladores para dar-lhes crédito). Figurando entre os pontos altos da Dreamwork, Como treinar seu dragão é imperdível.

domingo, 4 de abril de 2010

Arte Insana

Quanto tomei consciência de que meu amigo Rodolfo teve a idéia de criar um blog sobre artes, fiquei muito empolgado. Empolgado para poder ler e me interar do mundo elevado as artes e conhecer um pouco mais do que está na mente do meu insano amigo. Depois do filho parido, ou melhor, do blog criado, tive a idéia de me tornar um colaborador, o que animou ainda mais o meu já muito criativo parceiro de maluquices Rodolfo. Como já escrevo em um blog de arte (A Sétima, a saber) achei que poderia me esforçar para colocar em posts o que tenho em mente, já que me interesso por todos os tipos de artes, por assim dizer. Então, se você estiver passando por aqui no Cinespaço, não deixe de dar uma esticada no Insanidade Artística para ampliar um pouco mais sua visão sobre o mundo louco e imprevisível das artes.

Medley de Trilhas Marcantes (Oscar de 2002)

Neste vídeo que eu gosto muito, o mestre John Williams (foto), usual colaborador de Steven Spielberg e George Lucas, e por quem tenho profunda admiração, faz uma homenagem às grandes trilhas do Cinema num Medley muito interessante e tocante de 4:15 min. É um bom exercício reconhecer cada um dos filmes. Aproveitem.
Quem quiser assistir no youtube o link é aqui.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Rebecca, a mulher inesquecível (Rebecca)

Rebecca, a mulher inesquecível (Rebecca) – EUA – 1940 *****

Direção: Alfred Hitchcock

Roteiro: Robert E. Sherwood e Joan Harrison, baseado no livro de Daphne Du Maurier

Rebecca, a mulher inesquecível já inicia em um maravilhoso plano seqüência em que “caminhamos” pela estrada que dá acesso à mansão destruída dos De Winter. Podemos ver e entender (através de uma narração em off) que algo terrível ocorreu para que a casa se encontrasse naquele estado. A partir daí voltamos no tempo e nos encontramos com uma jovem bonita e humilde que trabalha de dama de companhia para a egocêntrica Sra. Danvers . Hospedada em um hotel de luxo em Monte Carlo junto com sua patroa americana, a jovem acaba conhecendo o Sr. De Winter, um melancólico e charmoso ricaço. Começando um amizade e depois um romance em pouco dias de convivência, diante da separação inevitável, ela é proposta em casamento pelo Sr. De Winter e aceita. Se mudando para a sua gigantesca mansão, a nova Sra. De Winter se sente deslocada na imensa casa com tantos empregados e tanto luxo. Além do problema de ter que se adaptar à nova realidade, vai aos poucos descobrindo os segredos do passado de seu marido ao mesmo tempo em que tem que conviver com a sombra do passado de sua antecessora, já que o Sr, Winter é viúvo a pouco tempo. Com a direção brilhante como de costume, Hitchcock consegue criar mistério e suspense no que seria naturalmente um drama. Hitchcock estabelece a presença da antiga Sra. Winter como se fosse algo real na casa, através de detalhes como um lenço bordado, empregados devotados (a misteriosa governanta da casa) e a tensão gerada no Sr. De Winter quando o nome de sua falecida esposa é pronunciado. Tudo isso faz com que a presença de Rebecca seja quase palpável e o mistério em relação à sua morte cresça ainda mais para a jovem Sra. De Winter. O roteiro baseado no livro de Daphne Du Maurier (que não li) é astuto, cheio de personagens intrigantes (o primo de Rebecca, o caseiro da cabana da praia, o mordomo e a governanta só pra citar alguns) e momentos com intensidade dramática. Laurence Oliver e Joan Fontaine são a dupla perfeita de protagonistas. O primeiro retrata bem um homem atormentado pelo seu passado, a segunda demonstra de forma muito talentosa o amadurecimento e a perda da inocência de sua personagem ao longo da história devido a tudo o que viveu em tão pouco tempo. Mais uma vez, o mestre Hichcock tem a oportunidade de mostrar sua genialidade, fazendo algo um pouco diferente do que está habituado, mas o seu estilo de direção é facilmente notado pelo suspense crescente, a trilha sonora evocativa de tensão e a parte técnica impecável. Rebecca é uma filme que não pode faltar no repertório de qualquer amante de bom Cinema.

Orgulho e preconceito (Pride and Prejudice)

Orgulho e preconceito (Pride and Prejudice) – EUA – 1940 ****

Direção: Robert Z. Leonard

Roteiro: Aldous Huxley, Helen Jerome e Jane Murfin, baseado no livro de Jane Austen

Quem me conhece sabe da minha admiração pelo trabalho da inglesa Jane Austen e pelas adaptações cinematográficas recentes de duas de suas obras. Primeiro, Razão e sensibilidade dirigido por Ang Lee em 1995 e depois Orgulho e Preconceito dirigido pelo ótimo Joe Wright em 2005, filme que exerce verdadeira fascinação sobre mim. Foi com curiosidade que me dispus a assistir essa versão de 1940 dirigida pelo talentoso Robert Z. Leonard. A minha surpresa residiu no fato de o roteiro e direção terem mudado o tom da narrativa, que no livro de Austen é um drama com humor ácido e crítico, para uma comédia de costumes da Inglaterra Vitoriana. Isso prejudicou a obra um pouco, mas não deixou de se tornar uma escolha curiosa. Mas, com exceção desta mudança de tom, o filme se mantém bem fiel à narrativa, desenvolvendo com cuidado e bom humor a batida história do casal que se odeia à primeira vista, mas que acaba descobrindo uma atração e uma afinidade com o tempo. Mas a história se abrilhanta mesmo é com o ótimo elenco, com Laurence Oliver na pele do famoso Mr. Darcy, Greer Garson como Elisabeth Benett, a personagem mais famosa de Austen com seu charme e persipicácia, Mary Boland como a impagável Senhora Benett e todo o elenco de apoio. A direção de Leonard é charmosa, trazendo todo o clima em que aquelas vidas sem propósito viviam, se preocupando apenas com a vida em sociedade, arranjar um casamento ou uma moça descente pra casar e o tamanho da fortuna alheia. Nesses momento o filme ganha força, porque o humor ácido e os diálogos afiados de Austen são preservados. A trilha sonora, direção de arte e figurinos são excepcionais. Orgulho e preconceito de 1940 é um ótimo entretenimento para quem se importa com os clássicos do início do Cinema.