segunda-feira, 12 de abril de 2010

Casablanca (Idem)

Casablanca (Idem) – EUA – 1942

Direção: Michael Curtiz

Roteiro: Julius J. Epstein, Philip G. Epstein e Howard Koch, baseado na peça de Murray Burnett e Joan Alison

Filmes noir que combinavam mistério, suspense, romance, investigações criminais e intrigas eram produzidos às dezenas em cada mês na década de 40. Mas o que faz com que Casablanca se destaque na multidão de títulos e entre para a eternidade como um dos filmes mais encantadores e marcantes de todos os tempos? A minha resposta seria: o romance e a direção de Curtiz.

O cenário é a cidade de Casablanca, situada no norte da África e que servia de ponto de passagem para os refugiados da Segunda Guerra que desejavam ir para a América. O ano é 1942, época em que o mundo via Hitler dominar grande parte da Europa e perseguir seus opositores. É quando conhecemos o misterioso Rick (Humphrey Bogart), dono do bar mais freqüentado da cidade que rejeita o amor de mulheres que caem a seus pés e se mostra completamente imparcial quando o assunto é guerra. Sua paz é perturbada quando encontra por coincidência em seu bar a mulher que descobrimos ser sua grande decepção amorosa, Ilsa (Ingrid Bergman), acompanhada de seu marido, importante líder da resistência contra os nazistas. O casal está em busca de dois vistos para poderem fugir para a América. Rick, por fatalidade, possui os vistos, o que o leva a ficar dividido entre o ódio pela rejeição de Ilza, seu amor inegável e seu dever enquanto cidadão do mundo.

Com uma história simples como essa, Casablanca poderia ser mais um das centenas de títulos produzidos pelos estúdios. Mas não é. A qualidade de direção de Curtiz imprime um charme e encanto à história que jamais ninguém conseguiu copiar, mesmo com as inúmeras tentativas, refilmagens para o cinema ou TV. Os movimentos de câmera elegantes que acompanham os personagens dentro do bar são inesquecíveis. Seus zoom in e zoom out nos rostos dos personagens são característicos e inconfundíveis. Seus enquadramentos e composições de quadros são cheios de significado. Só pra citar um exemplo, quando Rick vai para sua sala com o intuito de pegar dinheiro no cofre, seu físico junto com os elementos do cenário projetam uma sombra na parede com formato de buraco de fechadura. Só isso já dá pra sentir o cuidado de Curtiz com a composição visual do filme. Outra aspecto brilhante de Curtiz é a qualidade artística que ele imprime no relacionamento do casal protagonista e dos conflitos pelos quais estes passam. Por um lado, Ilza amava o líder e os ideais que Lazlo, seu marido, representava e por outro, Rick era a paixão avassaladora que ela viveu em Paris que se tornou inesquecível pra ela. Rick é a figura do homem desiludido com o amor e com a vida, que projeta nos outros a sua falta de fé nos seres humanos. Lazlo é a própria encarnação dos ideais e liderança que todo o mundo precisava naquele momento. Sua atitude em relação a Ilza quando descobre o seu segredo é simplesmente impressionante e digna de admiração.

Humphrey Bogart e Ingrid Bergman formam um dos casais mais charmosos e carismáticos do cinema até os dias de hoje. Com uma beleza etérea, encanto e presença inigualáveis, Bergman é a perfeita Ilza. Não tem como imaginar outra atriz no seu lugar. Bogart encarna Rick de forma perfeita. Com o cenho cerrado e o seu charme característico, seu Rick é impagável quando diz, depois de perguntado qual sua nacionalidade “sou um bêbado”, e quando fala “estou de olho em você, garota” e “esse é o começo de uma vela amizade”. O filme é cheio de personagens quadjuvantes inesquecíveis. Major Strasser, Capitão Renault, o barman de Rick, o trombadinha que assalta os clientes do bar, entre outros. Todos eles interpretados com performances inspiradas pelo grande elenco.

O desfecho, que pode não agradar a todos, é a forma mais genial de finalizar a história. Como Ilza mesmo falava com Rick, “nossa história está inacabada, precisa de um final...”. Deixando o desfecho convencional de lado, o roteiro (que segundo muitos, era escrito e modificado todos os dias no set de filmagem) escolhe a saída mais idealista e com mais significância, fazendo assim, com que o filme entrasse para a história.

Obrigatório para qualquer pessoa, Casablanca é um filme atemporal e inesquecível.

Nota: 10