segunda-feira, 17 de maio de 2010

O Poderoso Chefão Parte II (The Godfather Part II)

O Poderoso Chefão Parte II (The Godfather Part II) – EUA – 1974

Direção: Francis Ford Coppola

Roteiro: Francis Ford Coppola e Mario Puzo, baseado no livro de Mario Puzo

Depois da lendária primeira parte lançada em 1972 que surpreendeu o mundo por sua qualidade artística e densidade dramática, fazer uma continuação a altura era tarefa difícil. Mas nada que a dupla Francis Ford Coppola e Mario Puzo não tirasse de letra. E o que é melhor: não ouso dizer que o filme seja superior ao primeiro, mas eleva muito o nível da saga dos Corleone, expandido de várias formas as possibilidades que o primeiro filme deixou. O longa causa impacto com a intercalação da vida de Michael Corleone enquanto tenta manter a família unida e os negócios depois da morte do pai com a história do próprio pai na Sicília, desde sua infância até quanto chegou à America e se estabeleceu um homem influente e respeitado.

Somos apresentados durante as mais de três horas de projeção à história de Michael na década de 50 enquanto tenta expandir os negócios da família Corleone para o ramo do entretenimento com um hotel em Havana e em Las Vegas ao mesmo tempo que sofre atentados contra sua vida por parte de seus aliados. Obcecado pelo poder, deixa seu casamento e filhos de lado e descobre que seu irmão o traiu. Conseguindo se safar de uma acusação federal de crime organizado, Michael concentra suas forças para exterminar seus inimigos e se manter no controle da máfia. Através de fashbacks, conhecemos o passado de Vito Corleone no início dos anos 1900, quando assistiu sua família ser exterminada com nove anos de idade, foi para a América sozinho fugindo de seus perseguidores e começa a vida do zero. Acompanhamos o início de sua “carreira” enquanto homem influente e respeitado, quando assassinou o homem que cobrava impostos dos criminosos e assumiu a liderança do crime na cidade.

Não dá pra falar da qualidade da história sem falar das performances do elenco. Robert De Niro tem a difícil tarefa de dar continuidade a um personagem interpretado brilhantemente por Marlon Brando no primeiro filme. E se sai muito bem. Vivendo na Sicília um bom período para se preparar para o personagem, seu italiano soa perfeito (mesmo eu não sabendo nada de italiano) e sua composição de personagem não deixa nada a desejar à de Brando. Até mesmo sua voz é exatamente a do Don Vito que conhecemos. Sem falar em toda a expressividade que De Niro passa nos momentos tensos, quando assassina um homem ou ternos, quando se cerca de sua família. É plenamente plausível imaginar o tamanho da influência que a personalidade e carisma que Don Vito atingiu. Em paralelo, temos Al Pacino, que no primeiro filme era um Michael que rejeitava os negócios da família e do pai e que por fim assume a liderança da família, aqui está mergulhado de cabeça no poder e influência que seu nome possui, mas não possui o mesmo carisma e bondade do seu pai. Os flashbacks são retratados com muito saudosismo, como se aquele tempo em que Don Vito Corleono estava no poder fosse muito melhor do que agora. O que de fato é. Ao passo que Don Vito era amado e respeitado por quem o cercava, Michael é temido, capaz de se vingar sem piedade e eliminar qualquer um que cruze seu caminho.

Com um elenco de apoio tão memorável quanto os protagonistas, Diane Keaton encarna Kay, a esposa atormentada pelo caráter de seu marido pela segunda vez com muito talento. Robert Duvall numa performance contida mas fortíssima é Tom Hagen, o advogado dos Corleone. John Cazale, Talia Shire, Lee Strasberg e Michael V. Gazzo tem ótimas atuações também. Aliás, praticamente todo o elenco foi indicado ao Oscar com merecimento.

Mais um dos pontos altos do filme é sua direção de arte. Com cenários muito bem compostos e elegantes, locações maravilhosas na Sicília, ou na antiga Nova York, o visual do filme é maravilhoso, sem falar no sempre virtuoso Coppola em sua concepção plástica do longa. A iluminação dos cenários é quase sempre natural, o que realça sempre os tons de amarelo e a escuridão das cenas. Aí entra a fotografia maravilhosa de Gordon Willis. Ele consegue distinguir com exatidão os dois períodos diferentes que se alternam. Mesmo sem ver nenhum dos personagens, sabemos exatamente quando e onde se localiza a história a que assistimos na tela.

Com um desfecho angustiante e pessimista, tomamos consciência da perda da humanidade de Michael. E é com muita nostalgia e aperto no peito que testemunhamos uma cena da intimidade família Corleone quando Michael era o filho rebelde e Don Vito ainda o chefão. Como disse em meu texto sobre a parte I, O Poderoso Chefão II também é uma das obras de qualidade artística mais elevadas do Cinema.