domingo, 25 de julho de 2010

Shrek para sempre (Shrek forever after)

Shrek para sempre (Shrek forever after) – EUA – 2010

Direção: Mike Mitchell

Roteiro: Josh Kausner e Darren Lemke

Parece que foi ontem o ano de 2001, quando passou a fazer parte das nossas vidas um ogro grosseiro, porco e sem amor na vida (um ogro pode ser diferente?) que conhece uma princesa, se apaixona e faz amigos no meio do caminho. Tudo com muito bom humor, sátira aos contos de fada e ao Cinema e toques de sensibilidade e Inteligência. Nunca tinha se visto uma animação igual. Mantendo o mesmo nível de qualidade, o segundo longa até supera o primeiro em alguns aspectos. O terceiro já surgiu um pouco longo demais e não tão genial. É uma pena que a série tenha que acabar com esse pedestre Shrek pra sempre.

O filme perdeu todo o charme a criatividade dos dois primeiros. Foram poucas às vezes em que eu ri de fato durante a sessão. O que é um contraste, visto que nos dois primeiros eu rei bastante, digo bastante, no cinema ou em casa.

A história é sobre a rotina em que a vida de casado de Shrek se transformou. Cansado dos filhos, amigos e das cobranças de Fiona, Shrek faz um pedido para que sua vida voltasse a ser o que era que se realiza. É então que entra em uma realidade alternativa, em que seus amigos não o conhecem, não é casado com Fiona e um sujeito excêntrico e malvado é o rei. Consciente da besteira que fez, tenta desfazer tudo pra que sua vida volte ao que era antes.

É com essa premissa sem graça e batida que o filme se desenrola. Shrek, que sempre protagonizou ótimos momentos em cena está sem graça e desinteressante. Quem tem os melhores momentos são os sempre ótimos Burro e o Gato de botas. Até mesmo o vilão deste quarto capítulo não tem o mesmo “carisma” do Lord Farquad ou da Fada Madrinha.

Outro erro gravíssimo foi não incluir no fim um número musical, que nos dois primeiros rendeu momentos inigualáveis.

Se este tivesse sido o primeiro capítulo da série, Shrek com certeza não seria conhecido por nós como é hoje.

Nota: 6

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Cantando na chuva (Singin’ in the rain)

Cantando na chuva (Singin’ in the rain) – EUA – 1952

Direção: Gene Kelly e Stanley Donen

Roteiro: Adolph Green e Betty Comden

Don Lockwood (Gene Kelly) e Lina Lamont (Jean Hagen) são dois astros do cinema mudo. Com o advento do som nos filmes (the talking pictures, como eles dizem), os dois têm que adequar as suas carreiras para se manterem no mercado. O problema é que Lina tem uma voz irritante e é consideravelmente estúpida e egoísta. É nesse contexto que Don, seu melhor amigo Cosmo Brown (Donald O’Connor) e sua nova namorada Kathy (Debbie Reynolds) têm a idéia de transformar o seu novo filme fadado ao fracasso em uma comédia musical.

Estabelecendo o ritmo divertido desde a hilária seqüência inicial, quando Don conta toda a sua trajetória para os fãs, o filme já mostra a que veio. Personagens carismáticos, história simples, singela e comovente. Além de possuir um roteiro sólido, inteligente e contar uma boa história de um passado tão recente na época, a transição do cinema mudo para o falado, o filme se baseia mesmo é no charme e carisma de seus protagonistas.

Gene Kelly, que construiu uma carreira baseada em seu talento para dança, oferece aqui uma de suas melhores performances. Don é talentoso, companheiro, divertido e romântico. Os ingredientes certos para o ator criar o seu personagem inesquecível. Donald O’Connor encarna um Cosmo Brown enérgico e hilário, enquanto Kathy é a perfeita heroína nas comédias musicais: Bonita, alegre e inocente.

O filme ganha força mesmo é nos números musicais. Cheios de cores, músicas cativantes e coreografias enérgicas e hipnotizantes, eles exploram todo o talento dos atores e as possibilidades cômicas e românticas do roteiro. Destaque para a seqüência final, The Brodway Melody e para a maravilhosa cena de Don cantando e dançando na chuva depois de ganhar um beijo de sua namorada.

Cantando na Chuva é um filme que ganha um espaço cativo no coração de todos aqueles que têm a oportunidade de conhecer Don, Cosmo e companhia. Exemplo máximo da Era de ouro de Hollywood.

Nota: 10

quarta-feira, 7 de julho de 2010

O Poderoso Chefão Parte III (The Godfather Part III)

O Poderoso Chefão Parte III (The Godfather Part III) – EUA – 1990

Direção: Francis Ford Coppola

Roteiro: Mario Puzo e Francis Ford Coppola, baseado em livro de Mario Puzo

Essa terceira parte da mais famosa trilogia de Hollywood encerra com chave de ouro a saga da família siciliana Corleone, chefiada pelo desumano e complexo Michael Corleone (Al Pacino). Como disse no meu texto sobre o primeiro filme, os três longas tratam da ascensão e queda de Michael, acompanhando sua trajetória desde o início, quando negava a sucessão dos “negócios" do pai Vito Corleone (Marlon Brando), depois quando assumiu os negócios da família e viu seus entes queridos sofrerem danos por causa da suas escolhas até esse terceiro longa, quando vemos Michael passar adiante a liderança da família e ao mesmo tempo, não conseguir se livrar do peso de ter vivido uma vida fora da lei.

No longa, muitos anos se passaram desde a segunda parte. Michael agora é um senhor por volta dos seus sessenta anos que perdeu a sua esposa e o contato com seus filhos. Tenta abandonar todos os negócios ilícitos que mantinha até então e ser reconhecido pela Igreja, pois percebe que perdeu quase tudo com o que se importava na vida, está doente e carrega muitos “pecados” consigo. Uma guerra começa quando o impetuoso Vinni (Andy Garcia), seu sobrinho passa a trabalhar para Michael e entra em conflito com Zasa (Joe Mantegna) que domina as áreas da cidade onde uma vez Vito Corleone dominava. Recebendo um pedido de doação no valor de seiscentos milhões de dólares da Igreja, Michael exige o controle da empresa Imobiliare, o que deixa alguns membros do clero contrariados por duvidarem da sua conduta.

Com a talento habitual, Al Pacino mais uma vez oferece uma performance memorável. Extremamente contido, porém muito expressivo, Michael explode algumas vezes, e então nós entendemos o perigo e a ameaça que ele representa para as pessoas ao seu redor, como sua esposa Kay (Diane Keaton) e filhos, principalmente. O momento de sua confissão com o bispo é extremamente tocante, porque pela primeira vez durante os três filmes, vemos Michael fragilizado, tanto fisicamente como emocionalmente. As demais atuações são brilhantes, como nos anteriores. A exceção fica por conta de Sophia Coppola, inexpressiva e sem carisma algum. Mas seu tropeço e falta de talento não prejudicam o resultado final do filme.

O roteiro e a direção brilhantes dão a mesma profundidade e intensidade dramática à saga dos Corleone que os capítulos anteriores possuem. Ver um ser humano perder sua humanidade é extremamente triste. E principalmente ver a sua vontade e tentativa frustrada de abandonar o crime e sua vida fora da lei com a frase “eu tento sair, mas isso vem até mim...”. Mais tocante ainda é ver Michael perceber os danos que causou e sua incapacidade de reparar. Mas por fim, ele oferece um relance de humanidade quando percebe que a carreira que seu filho escolheu, diferente da que gostaria, o faz feliz e agradece a Kay por tê-lo ajudado quando ele não pode. Somado a isso, existem outros arcos dramáticos, como o da irmã de Michael, Connie (Talia Shire) que acaba seguindo os passos do irmão e tantos outros personagens interessantes que povoam aquele mundo.

A direção de arte e os figurinos são perfeitos como sempre, dando um visual inconfundível ao filme, captados pela bela fotografia em tons amarelados, alaranjados e escuros. A trilha de Carmine Coppola pontua a trama com a eficiência dos longas anteriores, mostrando que a troca de compositores não prejudicou o resultado. Afinal de contas, o tema já estava composto. O trabalho foi apenas criar variações.

Destaque para a seqüência final na ópera, que faz contraponto à história narrada durante o filme e também ao que está acontecendo no momento. E o desfecho é angustiante, pessimista, e ao mesmo tempo nostálgico. Dá um aperto no coração quando vemos Michael jovem, no passado, dançando com Kay em momentos do primeiro filme. Vem em nossa mente toda a sua trajetória e, principalmente, sua decadência. E a cena final amarra os três filmes de forma genial. Aliás, a trilogia é como se fosse um longo filme de nove horas de duração. As partes II e III não foram forçadas. Elas são a seqüência lógica dos acontecimentos e exploram todas as possibilidades que a premissa oferecia.

Figurando entre uma das obras de arte mais elevadas do Cinema, a trilogia O Poderoso Chefão é indispensável no repertório de qualquer um que se interesse por arte e, principalmente, pela Sétima.

Nota: 10

sábado, 3 de julho de 2010

Filmes vistos em junho

Príncipe da Pérsia – as areias do tempo (Prince of Persia – the sands of time – 2010): Tenta repetir o sucesso de Piratas do Caribe, mas não tem o mesmo charme e carisma. Bela fotografia e efeitos visuais corretos, mas história rasa. Nota: 5

O Golpista do ano (I love you Phillp Morris – 2009): Comédia de humor negro super divertida. Destaque para as performances de Carey e McGregor. Nota: 8

The last station (Idem – 2009): A narrativa apresenta alguns problemas, mas nada que ofusque o poder da magnífica história de Leo Tolstoy e sua esposa Sofia. Destaque para o elenco brilhante. Nota: 8

Onde vivem os monstros (Where the wild things are – 2009): Interessante viagem na mente do garoto protagonista. Direção de arte maravilhosa na concepção artística das criaturas e dos cenários. Nota: 9

Sin City – a cidade do pecado (Sin City – 2005): Clássico das adaptações de HQ. Obrigatório para qualquer cinéfilo. Nota: 10

A Última tentação de Cristo (The Last teptation of Christ – 1988): A releitura e a diferente visão da vida de Jesus tornam o filme único. Dafoe está ótimo. Scorcese é um gênio, claro. Nota: 9

O guia do mochileiro das galáxias (The Hitchhiker's Guide to the Galaxy – 2005): Esse filme tem um espaço no meu coração. Humor ácido e aventura garantida. Sem contar na filosofia e mensagem passadas de forma suave. Que pena que as continuações não foram filmadas. Nota: 10

O assassinato de Jesse James pelo covarde Robert Ford (Assassination of Jesse James by Coward Robert Ford – 2007): O conflito psicológico é perfeitamente narrado. Fotografia maravilhosa e boas atuações. Nota: 10

sexta-feira, 2 de julho de 2010

O Senhor dos Anéis – A Sociedade do Anel (The Lord of the rings – The Fellowship of the Ring)

O Senhor dos Anéis – A Sociedade do Anel (The Lord of the rings – The Fellowship of the Ring) – EUA – 2001

Direção: Peter Jackson

Roteiro: Peter Jackson, Philippa Boyens e Frances Walsh, baseado no livro de J. R. R. Tolkien

A literatura é uma das maiores fontes das quais os diretores de cinema extraem adaptações. Adaptar livros é tarefa difícil. Pode render embaraços ou obras primas. A segunda opção é o caso do maravilhoso O Senhor dos Anéis – A Sociedade do Anel, dirigido pelo talentoso Peter Jackson. Quando Jackson anunciou que filmaria a cultuada trilogia de Tolkien, o mundo todo ficou em expectativa. Uns diziam que a história era impossível de ser filmada adequadamente devido a questões técnicas e de duração, outros diziam que seria um fiasco e alguns confiaram no talento de Jackson, já mostrado em filmes como Almas Gêmeas e Os Espíritos. O resultado foi que o mundo todo ficou maravilhado com a qualidade artística e técnica do longa. Há anos não se via algo tão arrebatador e fascinante no Cinema.

Jackson e suas colaboradoras escreveram um roteiro que se mantém muito fiel ao livro. Alterações são feitas, mas para o bem da obra cinematográfica. O fato é que o espírito e o tom do livro de Tolkien foram mantidos. Imagino que se ele fosse vivo e quisesse ver um filme baseado no seu livro, ele sairia da sala de cinema plenamente satisfeito com o trabalho de Jackson. As adaptações cinematográficas são difíceis, como disse antes, porque o diretor/roteirista ao mesmo tempo não pode querer “filmar o livro” ao pé da letra e também não pode se distanciar muito do material de origem. Ele deve apresentar sua visão da história. E poucas vezes vi tanta paixão e tanto respeito para com um livro e toda a cultura que ele representa em uma obra adaptada.

A direção de arte nada mais é do que magnífica. Afinal de contas, trazer à vida a Terra Média descrita por Tolkien não era tarefa fácil. Mas a equipe se sai muito bem. São inesquecíveis as imagens do Condado, de Valfenda, de Minas Mória e tudo que é visto na tela, incluindo as locações maravilhosas na Nova Zelândia, país de origem de Jackson. Tudo captado pela estupenda fotografia. Outro ponto altíssimo que enriquece o filme é a memorável trilha sonora de Howard Shore, com um tema maravilhoso que se repete ao longo do filme e que gruda em sua mente, e o mais importante, ajuda a criar o clima épico e traz à vida o tom da obra de Tolkien com a orquestra e o coral magníficos de Shore.

Outro aspecto impressionante é o elenco reunido no filme. Ian McKellen cria um Gandalf à altura do descrito no livro: sábio, forte, engraçado e amoroso, entendemos o poder do seu carisma e a importância de seu conselho e de tê-lo por perto. Virgo Mortensen e Sean Bean também se destacam como os Homens guerreiros e honrados, principalmente o primeiro. Elijah Wood é o perfeito Frodo, que não entende muito bem o porquê das coisas que acontecem consigo, mas é corajoso e leal a seus amigos e sua demanda. Christopher Lee é um assustador Saruman e Liv Tyler adorável e forte, como Arwen deve ser. Todo o gigante elenco tem seus momentos de destaque em tela.

Mesmo com todos esses aspectos da produção acima para quais não economizei elogios, eles não seria de grande ajuda se não fosse a direção brilhante de Jackson. Com movimentos de câmera inventivos e virtuosos do início ao fim, ele imprime uma qualidade visual ao filme inigualáveis. Tudo é muito gráfico e as imagens falam muito por si só. Ele consegue intercalar cenas de ação e aventura com outras de humor ou mesmo mais reflexivas e sentimentais. Consegue criar uma tensão quase insuportável quando quer, com na seqüência das Minas Mória ou levar o espectador às lágrimas nos momentos mais tocantes. Confesso: sempre choro quando vejo qualquer um dos três filmes.

Nas mãos de qualquer diretor, o filme poderia ser apenas mais uma aventura ou fantasia, mas Jackson e seu time elevaram o nível do longa à obra prima, com tudo o que eu falei acima somado a diálogos brilhantes como “não podemos escolher o tempo em que vivemos, mas podemos escolher o que fazer com o tempo que nos é dado” e “mesmo a menor pessoa pode mudar o curso da história”. O filme toca e ecoa na mente do espectador depois da sessão.

Já li o livro duas vezes e os filmes não tenho mais a conta de quantas vezes vi. Sei que O Senhor dos Anéis tem um lugar especial no meu coração. Espero escrever sobre os outros dois longas que compõe a trilogia.

Nota: 10