terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Magnólia (Magnolia)

Magnólia (Magnolia) – EUA – 1999

Roteiro: Paul Thomas Anderson


Direção: Paul Thomas Anderson


Não é fácil resumir o enredo de um filme como Magnólia. O longa dirigido pelo brilhante Paul Thomas Anderson narra a vida de vários personagens ao longo de um dia decisivo em suas vidas, em que são apresentados às situações críticas e tem que reagir diante delas.


O filme começa com um prólogo narrado em off de três situações reais que podem ser consideradas coincidências, mas que são estranhas demais e fazem qualquer um pensar que seja uma obra do “destino” ou mesmo do simples fato de que todas as ações têm suas reações, por mais estranhas e adversas que essas podem ser. É baseado nessa premissa, de que nada é por acaso, que Anderson desenvolve seu roteiro e dirige de forma genial e sensível a história desses nove personagens que a princípio não tem nada em comum, mas que tem suas vidas cruzadas em certo momento.


Já acostumado a trabalhar com elencos grandes, como em Boogie Nights, Anderson tem um grande talento para dirigir atores e para conferir profundidade a seus personagens, visto que cada um dos nove protagonistas se apresenta um ser humano complexo (como todos são na vida real) com várias dimensões em suas personalidades, não figuras unidimensionais que são tão comuns em muitos filmes.


Não dá pra descrever cada um deles, mas para se citar como exemplo, existe o homem que foi abandonado pelo pai quando criança e que teve que cuidar da mãe com câncer, e quando adulto, criou um programa de auto-ajuda para homens que querem aprender a conquistar mulheres interpretado perfeitamente por Tom Cruise. Temos também um homem idoso no leito de morte que se arrepende dos seus atos pregressos. Este mesmo homem tem uma esposa mais jovem (a sempre ótima Juliane Moore) que às vésperas de perder seu marido, percebe que o amava, visto que tinha casado por interesses financeiros; e assim temos mais uma imensa galeria de pessoas comuns, enfrentando seus medos e fantasmas do passado e as adversidades que este mesmo passado provoca no presente. E não é com estranheza que no clímax da narrativa, a cidade é submetida a uma chuva de sapos, fato raro de acontecer, mas que é possível, desempenhando assim um papel essencial no desfecho da narrativa. Destaque também para o anticlímax em que todos os personagens cantam a mesma canção em momentos críticos e decisivos do dia. Muito emocionante.


E se a direção de Anderson é perfeita, com seus planos-seqüência impecavelmente realizados e seu cuidado com o visual do longa, a montagem também desempenha papel muito importante. Afinal, contar a história complexa de nove pessoas em três horas de duração não e tarefa fácil, e o que vemos na tela acontece de forma muito fluída e causa muito impacto no expectador. Vale notar que quem realizou a montagem foi o próprio P. T. Anderson sob um pseudônimo. Outro aspecto vital para a veracidade do que vemos são as impecáveis atuações. Sensíveis ou mesmo caricatas, todas as performances são honestas e muitos convincentes.


Magnólia é um dos filmes mais importantes da década passada. P. T. Anderson mostrou que o ótimo Boogie Nights não era sorte de principiante.


Nota: 10

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Além da linha vermelha (The thin red line)

Além da linha vermelha (The thin red line) – EUA – 1998

Direção: Terrence Mallick

Roteiro: Terrence Mallick

O que é a Guerra? Porque ela faz parte da história dos seres humanos e até da natureza em si? O que ela causa na vida daqueles que participam dela? O que motiva soldados a lutar em uma batalha cuja causa não é deles? Um dia esse ciclo de violência e desumanidade terá fim? É tentando responder essas perguntas e muitas outras relacionadas à guerra que Terrence Mallick nos presenteia com esse sensível relato sobre em grupo de soldados na Campanha do Pacífico durante a Segunda Guerra Mundial.

Além da linha vermelha não é um filme de guerra convencional, que se concentra nas batalhas. Mallick mantém o foco na mente de seus protagonistas, usando abundantemente uma eficiente narração em off. Aliás, o filme não tem nenhum personagem mais ou menos importante. Todos são protagonistas de suas próprias histórias e têm suas jornadas e emoções muito bem desenvolvidas pelo roteiro e direção. Aliás, o elenco é admirável. Conta com nomes como George Clooney, Sean Penn, Adrien Brody, Jim Caviezel, John Cusack, Woody Harrelson, Nick Nolte e John C. Reilly, entre outros.

Mas, mesmo se concentrando no emocional e no que a guerra representa para os soldados e membros do exército, Mallick impressiona nas cenas de batalha, extremamente bem dirigidas, com centenas de figurantes e várias ações acontecendo ao mesmo tempo na tela, ele consegue reger todo o espetáculo da forma que cause maior impacto no espectador e ao mesmo tempo ajude a contar algo sobre as pessoas que estamos vendo. Muitos filmes que tem como plano fundo a guerra são feitos, mas poucos são originais. Esse é um deles.

A linha vermelha a qual o título se refere é na verdade a tênue linha que separa os civis que esperam seus entes queridos voltarem da guerra daqueles desafortunados que participaram dela. Uma vez cruzada a linha, a humanidade e inocência dos soldados com relação ao mundo estão perdidas.

Mallick já provou ser um cineasta que não faz filmes por fazer. Ele conta uma história quando tem um motivo para fazê-lo.

Nota: 10